“O destino das nações depende daquilo e de como as pessoas se alimentam” (Brillat-Savarin, 1825).

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Doença Celíaca 2

   Então, pessoal, o seminário está se aproximando e gostaria de postar minhas anotações quanto ao meu tema! Já fiz um post anterior sobre Doença Celíaca. Porém, agora, falarei com maior profundidade sobre o assunto, com algumas anotações repetidas, mas com novas observações, também. Em breve colocarei curiosidades sobre o trigo e seu processamento! Here we go!


 DEFINIÇÃO:
   Também chamada de enteropatia glúten-sensível, é uma desordem auto-imune, sendo causado pela  intolerância permanente ao glúten, encontrado no trigo, malte, aveia, cevada e centeio.
   Bem, para saber sobre a DC é necessário que se conheça o seu causador, o glúten!
  
  O glúten é uma substancia fibrosa, elástica, de cor âmbar, pegajosa, formado por proteínas quando a farinha de trigo, por exemplo, é misturada com água e submetida à força mecânica.
   É o responsável pela retenção dos gases da fermentação, o que colabora no crescimento do pão. Também retém a umidade e do pão depois de assado, como também promove a elasticidade.   
   Encontrado na farinha, sendo que a de trigo é mais rica, o glúten é composto por 2 grupos de proteínas: gliadinas e as gluteninas. As primeiras são prolaminas responsáveis pela extensibilidade da massa. Já as gluteninas são responsáveis pela elasticidade da massa. 

                               

   Quando a farinha é misturada com água, sob tal esforço mecanico, essas proteinas ficam hidratadas e formam um complexo protéico pela sua associação por pontes de hidrogênio, ligações de van der Waals e ligações dissulfito, esse complexo é o glúten.
    As características desejadas para o glúten podem ser alteradas por vários fatores como se o teor da água não for suficiente, não haverá a formação do glúten. A propriedade de extensibilidade pode ser afetada pela falta de lipideos e pelo excesso de oxidação. Assim como a resistencia do glúten pode diminuir com o excesso mecânico ou com a presença de enzimas proteolíticas, que são capazes de destruir a cadeia peptídica.


 COMO OCORRE NO ORGANISMO?
            O organismo do celíaco é avesso às partes do glúten, causando lesões na mucosa do intestino delgado, achatando suas vilosidades. Fato que prejudica a absorção de nutrientes, trazendo como sintoma a desnutrição, e também permite a passagem de substancias estranhas que podem ser danosas à saúde.

            Veja como é a parede intestinal:

               

            Agora, quando um celíaco ingere o glúten
                     
 TIPOS:
   É comum que a doença celíaca apareça na infância e, caso não seja controlada precocemente, pode gerar um déficit de crescimento. Como é uma alteração genética, não existe cura para a intolerância ao glúten e o distúrbio pode persistir ou reaparecer na adolescência e idade adulta, principalmente antes da gestação e, alguns casos, na terceira idade. O quadro clínico da doença se manifesta com e sem sintomas. No primeiro caso, há duas formas:

 A CLÁSSICA>

   É freqüente na faixa pediátrica, surgindo entre o primeiro e terceiro ano de vida, ao introduzirmos alimentação à base de papinha de pão, sopinhas de macarrão e bolachas, entre outros industrializados com cereais proibidos. Caracteriza-se pela diarréia crônica, desnutrição com déficit do crescimento, anemia ferropriva não curável, emagrecimento e falta de apetite, distensão abdominal (barriga inchada), vômitos, dor abdominal, osteoporose, esterilidade, abortos de repetição, glúteos atrofiados, pernas e braços finos, apatia, desnutrição aguda que podem levar o paciente à morte na falta de diagnóstico e tratamento.


NÃO CLÁSSICA

Apresenta manifestações monossintomáticas, e as alterações gastrintestinais não chamam tanto a atenção. Pode ser por exemplo, anemia resistente a ferroterapia, irritabilidade, fadiga, baixo ganho de peso e estatura, prisão de ventre, constipação intestinal crônica, manchas e alteração do esmalte dental, esterilidade e osteoporose antes da menopausa.

ASSINTOMATICA

   E se não houver sintomas? Há ainda, a doença na forma assintomática. São realizados nestes casos, exames (marcadores sorológicos) em familiares de primeiro grau do celíaco, que têm mais chances de apresentar a doença (10%). Se não tratada a doença, podem surgir complicações como o câncer do intestino, anemia, osteoporose, abortos de repetição e esterilidade
Como se faz o Diagnóstico da  DOENÇA CELÍACA ?
   São realizados exames especializados para avaliar a absorção da D.XILOSE e dosagem de gordura nas fezes, assim como dosagem de anticorpos antigliadina,  antiendomíseo,  e  antitransglutaminase,  porém,    É ABSOLUTAMENTE NECESSÁRIA  a realização da Biopsia do Intestino Delgado (BID) para estabelecer o diagnóstico da Doença Celíaca, a qual deve ser obtida, preferencialmente,  da  junção  duodeno-jejunal, já que, para a absoluta certeza do diagnostico, esse exame se faz necessário. Não há motivos para suspender a dieta com glúten sem realizar a biopsia.
   As amostras podem ser obtidas utilizando-se cápsula perioral, que é acoplada a uma sonda ou pinça durante o processo de endoscopia digestiva alta.

Qual é o tratamento da DOENÇA CELÍACA ?
   Para a Doença Celíaca existe um único tratamento: uma dieta rigorosa, onde devem ser retirados todos os alimentos e preparações que contenham o glúten.  Não se deve comer " só um pouquinho " desses alimentos,  pois podem ocorrer consequências  danosas para o paciente.
   Deve-se substituir os ingredientes que contenham glúten (como a farinha de trigo ),  por outras  opções como o uso de farinha de arroz,  amido de milho, farinha de milho, fubá,  farinha de mandioca, polvilho e fécula de batata.
  
A dieta deve ser seguida por toda a vida?
   Sim,  pois a quantidade de glúten suficiente para causar sintomas varia para cada individuo. Se não aparecerem sintomas depois que o paciente ingerir glúten, isto não significa que o alimento não lhe fará mal.
   A vigilância da dieta deve ser permanente, já que a ingestão de glúten pode acontecer até sem que a gente perceba, como por exemplo:

 -através de óleo de fritura utilizado no preparo de alimentos com glúten e depois para a fritura de alguma preparação sem glúten;
 -utilização da mesma faca   para se passar margarina em pão com glúten e depois passar em bolacha sem glúten;
 -usar tabuleiros ou formas polvilhadas com farinha de trigo e depois reutilizá-las para os produtos  sem glúten, sem que tenham sido bem lavadas.

   Na falta de produtos industrializados especiais sem glúten no mercado brasileiro, a maior parte das preparações do cardápio do paciente  celíaco deve ser caseira, demandando tempo e dedicação para o preparo, então tem que ter criatividade na elaboração das receitas.

 Como seguir uma dieta sadia sem o glúten ?
  Neste caso o paciente deve ter uma alimentação variada, composta por elementos ou nutrientes que o ajudem a crescer,  e a retirada do glúten não atrapalha o processo de crescimento que se estende até a adolescência, desde que se substitua por outros alimentos sem glúten.
  De forma geral,  os alimentos podem ser divididos em ENERGÉTICOS, CONSTRUTORES e REGULADORES, sendo que uma dieta equilibrada deve conter quantidades adequadas de todos eles, sempre que for possível.

ENERGÉTICOS
  Nesse grupo há os Carboidratos (também conhecidos como  hidratos de carbono ou glícideos) e os Lipídeos (também conhecidos como gorduras).  Eles nos dão energia  (combustível)  para nossas atividades diárias e são responsáveis por manter a temperatura do corpo constante.

 Carbohidratos - São  também conhecidos como açucares e podem ser pequenos como a sacarose, a lactose e a glicose ou maiores como a malto-dextrina e o amido. Encontramos os carbohidratos em grandes quantidades no milho,  arroz,  aipim, mandioca,   tapioca, araruta, batatas, feijões, lentilha, ervilha,  grão de bico, açúcar, mel e outros.

 Lipideos ou gorduras  -  Além de serem boas fontes de energia, as gorduras também são responsáveis por levar as vitaminas A, D, E, e K dos alimentos que ingerimos,  até o interior do nosso organismo.
 As gorduras estão no azeite de dendê, nos óleos vegetais ( óleo de soja, de milho, de algodão, de canola, de girassol ) , nas margarinas, no creme vegetal,  na banha de porco, na manteiga, no creme de leite, na gema de ovo e "escondido" nas carnes de boi, frango, peixe, coelho, no presunto e maionese.

 CONSTRUTORES
  Os elementos construtores são as Proteínas.   

Proteínas - Garantem o perfeito funcionamento da pele, músculos, coração, visão, ossos e cérebro. As proteínas podem estar em alimentos de origem:

  Animal - são aproveitadas de uma melhor forma pelo nosso corpo e por isto chamadas de alto valor biológico.  Encontradas na carne, no pescado, no fígado de boi e de frango, na dobradinha   (bucho),  nos ovos,  no leite e seus derivados (coalhada,  iogurte e queijos).
  Vegetal - também são importantes na nossa alimentação e estão presentes no feijão, na sopa, ervilha, grão de bico, entre outros.

REGULADORES
  No grupo dos alimentos reguladores estão as Vitaminas, os Sais minerais, as Fibras e a Água.
Vitaminas - São em grande número em nosso organismo. Não as produzimos e nenhum alimento possui todas elas; por isto é que a nossa dieta deve conter os mais variados alimentos, na medida do possível.          Cada vitamina tem uma função certa, mas de um modo geral, são importantes para manter nossa saúde em dia. Regulam nosso sistema nervoso, melhorando nossa imunidade contra as infecções.
Vitamina:
Bom para:
É encontrada:

A
Bronzeamento da pele, evita queda dos cabelos
Cenoura, vagem, alface, abóbora, abacaxi, pêssego, leite, carnes de vaca e porco.
A, E
Pele e visão

C
Estrutura das veias e gengivas. Evita o Escorbuto, doença que causa hemorragias internas e externas e fraquezas ).Previne gripes, resfriados e fortalece o sistema imunológico 
Tomate, pimentão verde, brócolis, repolho cru, laranja, limão, uva, acerola, caju, manga, kiwi, goiaba
D
Calcificação dos ossos e dentes. Absorver fósforo pelo organismo
Óleos de fígado de peixes, fígado e gema de ovos.
Tomar sol também ajuda a absorve-la.

B1, B2, B6 e B12 
Funções das células. Evita anemias, previne fadiga e esterilidade masculina
Fígado de boi ou frango, ovos, carnes vermelhas, castanhas, nozes, cenoura, ervilha, beterraba, leite e queijo prato.

Coagulação do sangue

 Sais Minerais - Dentre os componentes mais importantes de seu grupo, destacam-se o Cálcio, Ferro, Sódio, Potássio, Zinco, Iodo, Manganês e Cobre. Atuam na construção dos tecidos, na formação de ossos e dentes, nos nervos, coração, crescimento, etc.
  Os alimentos que tem Cálcio são o leite e derivados ( coalhada , queijos e iogurtes ), o brócolis, espinafre, acelga, agrião, couve, chicória e mostarda. Sua ausência em nosso organismo provoca má calcificação dos dentes e dos ossos, assim a criança cresce lentamente ou até mesmo para de crescer.
   Se nos faltar o Ferro, teremos anemia, ficando cansados, desatentos, com sono e fracos. O Ferro é responsável em levar oxigênio através dos  pulmões e do sangue, e os tecidos precisam dele para crescer e sobreviver. Encontramos o Ferro nas carnes, feijão, espinafre, acelga, broto de abóbora, couve e folha de batata doce.. Para que sejam melhor aproveitados pelo nosso organismo, devemos consumi-los com alimentos com alimentos que contenham vitamina C, como limão ( limonada ), goiaba, acerola, laranja, mamão e banana.

   Fibras - São componentes dos alimentos que o nosso organismo precisa para regular a função intestinal. Alguns alimentos sem glúten e ricos em fibras são as frutas ( com casca ), vegetais, feijões, lentilha, milho ( verde, canjica ou pipoca ), o mamão, uva-passa seca e ameixa preta.
   Água - Necessária para diversas funções de nosso organismo, como lubrificação de articulações, das córneas, ajuda nas funções do intestino, faz parte da saliva, das lagrimas e meio de transporte para os nutrientes através do sangue e fora dele.  

 Alguns pacientes transgridem a dieta ?
 Infelizmente sim,  pois embora o único tratamento consiste na dieta isenta de glúten por toda a vida, este tratamento parece simples,  porém inúmeros problemas podem levar o paciente a transgredi-la, como pôr exemplo:
* Falta e orientação dos familiares sobre a doença e suas complicações;
* Descrença na quantidade de cereais proibidos (qualquer quantidade é prejudicial e agressivo aos celíacos);
* Dificuldades financeiras, pois os alimentos permitidos são os de custo mais elevado;
* Hábito do uso da farinha de trigo na alimentação (pão, macarrão, etc);
* Falta de habilidade culinária das mães para preparar alimentos substitutivos;
* Forte pressão que sofremos da propaganda dos industrializados,  que nos leva a consumir tais produtos e,
* Rótulos, embalagens ou bulas que nem sempre contém a composição correta ou bem clara dos ingredientes.
   Enfim, a doença celíaca vem despertando a curiosidade cientifica por causa de alguns fatores, como:
- a incidência cada vez mais freqüente. Mais de 1 milhao de brasileiros possuem e não sabem!
- o quadro clinico é variável, desviando a atenção dos médicos para outras moléstias
- é comum a DC estar associada a outras enfermidades, como: esquizofrenia, depressão,artrites, baixa estatura e dificuldade em ganhar peso e, principalmente,a dermatite herpetiforme.

   É isso, gente! Torça para que façamos uma boa apresentação e que possamos saber como transmitir para os outros aquilo que aprendemos! 

Bibliografia:



Postado por:
Thaís Fernandes :)

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